Segundo dia na maternidade.
Sentia-me bem e o Murilo também estava bem, sempre muito
bonzinho e quietinho, apenas com muita dificuldade para mamar, mas as enfermeiras ajudavam, então estava tudo bem.
As quatro da madrugada levaram ele para o berçário e eu
“deveria” descansar, mas é claro que não consegui, não desgrudava o olho da TV
onde eu podia vê-lo dormindo no berçário.
Uma hora fechei os olhos e quando acordei ele não estava
mais lá, que desespero, fui até a
berçário e notei que o Médico estava examinando ele e depois disso o levariam para o
quarto novamente (neuroses de mãe de primeira viagem rs).
Lá pelas dez da manha, o Murilo ainda não tinha voltado do berçário, o Pediatra que o examinou entrou no quarto e disse que queria falar
comigo, perguntou quem estava lá comigo e apresentei minha mãe.
Eu sentada na cama e minha mãe no sofá, ele começou: - Examinei o seu filho agora e observei que ele tem uma prega palmar única na mão
esquerda, a implantação da orelha é um pouco abaixo da linha do olho, o dedão
do pé é separado dos outros dedos, e ele coloca a língua para fora muitas vezes e devido a essas características desconfiamos
que ele tem uma síndrome.
A minha visão escureceu, uma agonia muito grande apertou meu
peito, comecei a ter calafrios e chorar e em meio a tantas sensações ruins, eu
perguntei: -Síndrome de Down? (Lembram que eu achava os olhinhos dele diferente? Quando ele disse Síndrome, a imagem dos olhinhos dele me remeteram a uma criança down)
Ele respondeu: - Sim!
E o desespero me dominou, aquilo não poderia ter acontecido
com meu filho, não com ele não, o que era isso? Porque com meu filho? Porque
comigo? E eu sentia uma dor tão grande, mas tão grande, que não consigo
explicar, meus olhos enchem de lágrima só de pensar em tudo que senti... Eu
chorava desesperadamente, pedia a Deus que aquilo fosse um sonho, porque eu não
suportaria ver meu filho sofrer.
"Sofrer? Sim foi isso que pensei, afinal, eu não fazia a mínima ideia o que era a Síndrome de Down."
O Pediatra tentou me acalmar, falando que era só suspeita e
que chamaria uma médica geneticista para
avaliar o Murilo, porque com a experiencia dessa doutora ela conseguiria me dizer com 99% de certeza se ele teria ou não a síndrome, e também para conversar comigo, mas mesmo assim colheriam o sangue para
fazer o cariótipo que confirmaria a Síndrome.
"Cariótipo? Geneticista? Prega palmar? Implantação da orelha?
Meu Deus o que era tudo isso? O que tá acontecendo? O que eu fiz de errado na gravidez? Será que foi algum stress? Ou o dia que cai na praia? Ou quando cai na escada? Será que foi alguma coisa que comi? Meu Deus, o que eu fiz com meu filho na gestação para acontecer isso?" ... Isso tudo era o que eu me perguntava ...
"Eu não to aguentando essa dor dentro de mim!" Era o que eu não cansava de pedir, pedia para Deus, para minha mãe (que estava lá do meu lado sempre), mas só o tempo poderia fazer isso por mim, só o tempo!
Minha cabeça estava uma confusão geral e meu coração uma mistura de sentimentos e dor que não conseguia mais manter o equilíbrio, a única coisa que eu conseguia fazer era chorar!
Mas meu amor pelo Murilo já estava enraizado, ele era meu filho e eu aceitaria ele do jeitinho que ele é, e decidi que jamais ele poderia me ver chorar, então foi o que eu fiz... Eu o amei ainda mais e decidi
que ele não me veria sofrer nem chorar por nada, muito menos pela "deficiência" dele.
Assim que pegava meu bebê para amamentar, dormir, acarinhar, eu me acalmava e enxugava as
lágrimas e não deixava nada abalar nosso momento juntos.
O ponto é que eu não sabia o que era a Síndrome de Down, muito menos o que isso afetaria na vida do meu filho, como seria a vida dele, o que eu iria enfrentar dali para frente, o que eu precisaria fazer por ele.
Eu nunca convivi e nem cheguei a conhecer alguém com Síndrome de Down. Infelizmente!
E o DESCONHECIDO é que gera o MEDO, e quanto medo, medo de tudo, e principalmente o medo do preconceito, da discriminação.
E aquele filho que sonhei e imaginei? Tive que enterrar...
Passei por um luto! Luto por ter que enterrar o filho que imaginei e sonhei, e todo luto é doloroso! E ao mesmo tempo entender e aceitar que meu filho era aquele ali, um downzinho lindo!
Engraçado é que ninguém tem muito o que te dizer, ninguém sabe o que dizer, e o pouco que alguns falaram, me chateou ainda mais. Mas também, pense, a situação era nova para todos, não poderia exigir que eles soubessem lidar com tudo isso.
E naquela noite, comecei a pesquisar tudo sobre a síndrome na internet, horas eu queria fugir das informações porque eu tinha medo do que eu poderia descobrir, horas eu queria saber tudo ... E assim foi passando as horas na maternidade, cuidava do Murilo, recebia as visitas, atendia os telefonemas e ia para a internet... Desde esse dia, eu não dormi mais e por um boooom tempo, mas vou contando isso (aos poucos) nos próximos post!
Bom, quero contar como foi a visita da geneticista (que foi no último dia de maternidade), mas isso fica para a próxima postagem!
;)
Nenem mais encantador que ja pude conhecer, a deficiencia esta em nós em pensarmos que Sindrome de down é uma deficiencia... eles são apaixonantes!!! :)
ResponderExcluirQuerida amiga linda história, não pude deixar de me emocionar e me orgulhar de saber que conheci uma pessoa espetacular forte, decidida e destemida. Deus te abençoe com esta inciativa de tornar publica esta dor e alegria que te fez mais "humana".. Te admiro muito!
ExcluirBeijos no coração e muitas bicotas no Murilinho.
Jê
Jeje obrigada! Fico muito feliz de saber q acompanha a história do Murilinho! Obrigada sempre pelas palavras e pelo carinho!
ExcluirGrande beijo! Ligia ♥
Grande Lígia!!!! Me emocionei com seu post. Você está de parabéns! És uma mulher de fibra, uma grande mulher! Dê um beijão no Murillo por mim. Pena que faz tempo que não o vejo. Beijão!
ResponderExcluirFala Samir! Quanto tempo! imagine... obrigada pelo carinho! Apareça por aqui, sempre terá novidades! Beijão Lígia.
ExcluirQue lindo!Você é uma pessoa "inteira" me orgulho de você! Bjo
ResponderExcluirEle é um bebe muito bonitinho mesmo...
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